A gestão de riscos e crises empresariais é uma área complexa que exige uma atenção cuidada ao equilíbrio entre dois conceitos-chave: antecipação e resiliência. Enquanto consultor de gestão de riscos, gostaria de o convidar a refletir e a debater a seguinte questão crucial: enquanto CEO, deve dar prioridade ao investimento na antecipação dos riscos ou no reforço da resiliência da sua organização face às crises?
Este debate não é apenas teórico; faz parte da realidade quotidiana das empresas que enfrentam uma incerteza crescente num mundo em constante mudança. Para iniciar este debate, começarei por definir e explorar estes dois conceitos fundamentais e, em seguida, analisarei a forma como podem ser equilibrados na cultura empresarial. Por fim, vou sugerir formas de determinar onde colocar a ênfase, consoante a natureza e a cultura da sua organização.
Antecipação: Antecipar para prevenir melhor
A antecipação, no contexto da gestão dos riscos, consiste em avaliar a probabilidade de acontecimentos negativos susceptíveis de comprometer os objectivos da empresa. Baseia-se no princípio da precaução, que incentiva a adoção de medidas preventivas face à incerteza, mesmo na ausência de provas científicas conclusivas sobre o impacto potencial de um risco. Por exemplo, em sectores onde a inovação tecnológica é rápida, como a biotecnologia ou as telecomunicações, a antecipação desempenha um papel crucial na prevenção de potenciais catástrofes antes de estas se concretizarem.
No entanto, a antecipação tem os seus limites. Como salientado em várias das leituras que analisei, uma adesão demasiado estrita ao princípio da precaução pode travar a inovação e conduzir a custos de oportunidade significativos. Por exemplo, atrasar a comercialização de um novo produto ou tecnologia enquanto se espera por uma prova absoluta de segurança pode privar a empresa de um avanço competitivo significativo. Além disso, a antecipação é frequentemente confrontada com a dificuldade de prever futuros fracassos, particularmente em ambientes organizacionais cada vez mais complexos. É possível aprender com os erros do passado, mas será que esse conhecimento é sempre transferível para situações futuras? Atualmente, está em curso um grande debate sobre a IA e os seus avanços.
Resiliência: a capacidade de recuperar após uma crise
A resiliência, por outro lado, diz respeito à capacidade de uma organização para recuperar de uma crise depois de esta ter ocorrido. Não se centra na prevenção de acontecimentos negativos, mas sim na forma de restabelecer rapidamente a ordem após uma perturbação. Investir na resiliência significa desenvolver processos, sistemas e uma cultura organizacional que possam lidar eficazmente com as crises e minimizar o impacto negativo na empresa.
A resiliência tem vantagens claras, sobretudo num mundo em que as crises podem surgir inesperadamente. Por vezes, é mais pragmático concentrarmo-nos na resiliência em vez de tentarmos antecipar todas as eventualidades. Por exemplo, nos sectores em que os incidentes são difíceis de prever (como os sistemas tecnológicos complexos), a resiliência pode oferecer uma resposta mais adaptável e menos dispendiosa do que uma antecipação rígida.
No entanto, a resiliência não é isenta de custos. Requer uma vigilância constante, recursos dedicados para monitorizar os riscos emergentes e um compromisso a longo prazo da organização para manter uma capacidade de resposta eficaz. Isto pode ser particularmente exigente para as empresas que operam em ambientes dinâmicos onde os recursos são limitados.
Equilíbrio entre antecipação e resiliência: uma questão de cultura empresarial
A prioridade a dar à antecipação ou à resiliência depende em grande medida da cultura da empresa e do tipo de riscos que enfrenta. As empresas com uma forte cultura de inovação, em que o rápido desenvolvimento de novos produtos e tecnologias é essencial, podem considerar que uma abordagem de antecipação está mais alinhada com os seus objectivos. Permite-lhes minimizar as potenciais perturbações e maximizar as oportunidades de mercado.
Por outro lado, as empresas que operam em sectores onde as crises são inevitáveis e difíceis de prever, como os serviços financeiros ou a energia, podem beneficiar de uma abordagem baseada na resiliência. Para estas organizações, a capacidade de recuperar rapidamente de uma crise pode ser um fator determinante do sucesso a longo prazo.
No entanto, raramente é sensato escolher uma em detrimento da outra. Tal como Mennicken e Lodge, da London School of Economics, salientaram em várias publicações, não se trata de uma questão de “tudo ou nada”. Uma estratégia eficaz de gestão do risco requer frequentemente uma combinação de ambas as abordagens. A verdadeira questão para os gestores é saber como equilibrar estas duas dimensões de acordo com as especificidades da sua organização.
Debate: Onde deve ser colocada a ênfase?
Aqui estão algumas perguntas para estimular a reflexão e o debate dentro da sua organização:
1.Quais são os riscos mais críticos para o seu negócio? São previsíveis ou estão mais ligadas a crises imprevisíveis? Esta questão pode orientar a sua organização em direção a um equilíbrio mais apropriado entre antecipação e resiliência.
2.Qual é a cultura de gestão de riscos da sua empresa? Se a sua empresa valoriza a inovação e a agilidade, uma abordagem antecipatória pode ser favorecida. Se valorizar a estabilidade e a capacidade de superar crises, a resiliência poderá assumir o controle.
3.Como são avaliados os custos de oportunidade no seu negócio? Uma avaliação cuidadosa dos custos de oportunidade da antecipação (como o travão à inovação) versus os da resiliência (como os recursos necessários para manter uma vigilância constante) pode ajudar a encontrar o equilíbrio certo.
4.Como as duas abordagens podem ser integradas harmoniosamente? A gestão de riscos e a gestão de crises não devem ser isoladas. É essencial criar sinergias entre as equipas responsáveis pela antecipação e as responsáveis pela resiliência.
Conclusão: Rumo à Gestão Integrada de Riscos e Crises
Concluindo, o equilíbrio entre antecipação e resiliência não é uma simples questão de escolher entre duas estratégias. É uma questão de encontrar o equilíbrio certo com base nos riscos e na cultura específicos da sua empresa. Este equilíbrio deve ser reavaliado regularmente para se adaptar às mudanças no ambiente externo e às necessidades internas da organização.
Como CEO, o seu papel é orientar a sua organização neste pensamento, tendo em conta as necessidades de curto prazo, bem como os imperativos de longo prazo. Uma empresa que consiga antecipar riscos e ao mesmo tempo desenvolver uma forte resiliência às crises estará mais bem equipada para prosperar num mundo incerto.
Como parte deste debate, encorajo-vos a solicitar feedback das vossas equipas, a realizar simulações de crises e a analisar regularmente os riscos para ajustar a vossa abordagem. Em última análise, a chave do sucesso reside na capacidade de integrar estas duas perspetivas de forma coerente e equilibrada na cultura da sua empresa.